O que é Liturgia
29/10/2012 17:09
1.1 LITURGIA
Liturgia é uma palavra da língua grega que quer dizer: Ação do povo, ação em favor do povo. É a ação de um povo, reunido na fé, em comunhão com toda a Igreja, para celebrar o Mistério Pascal – Morte e Ressurreição de Cristo, presente na Assembléia, oferecendo-se ao Pai como culto perfeito.
O ponto culminante de uma comunidade eclesial é a celebração comunitária, onde todos expressam sua fé comum; ouvem o mesmo Senhor, Salvador e Libertador; agradecem os favores de Deus; cantam as mesmas canções. Aí todos louvam a Deus e os laços do amor fortalecidos. Cresce a fraternidade e o Povo de Deus se reanima, sobretudo nos Sacramentos, para continuar a luta pela construção do Reino.
Nenhuma atividade pastoral pode realizar-se sem referencia à liturgia. Qualquer celebração tem sentido evangelizador e catequético. Toda ação pastoral terá como ponto de referencia a liturgia, na qual se celebra a memória e se proclama a atualidade do projeto de Jesus Cristo. (Conf. Doc. 38 —CNBB).
À luz da Constituição litúrgica Sacrossanctum Concilium[1], podemos dizer que é: “uma ação agrada pela qual através de ritos sensíveis se exerce, no Espírito Santo, o múnus sacerdotal de Cristo, na Igreja e pela Igreja, para a santificação do homem e a glorificação de Deus” (cf SC, 7).
Celebrar a liturgia hoje é viver a dimensão do presente dentro da ótica de Cristo. É celebrar os momentos da vida, procurando “fazer memória” do que Jesus fez e atualizando suas decisões voltadas para o Pai. É a comunidade que celebra a vida. Através de Cristo-Ressuscitado, presente nos sinais-símbolos-sacramentais, a Igreja continua a história da salvação, procurando dar “aqui e agora” a resposta ao Plano do Pai.
Outra Definição que possuímos da liturgia é, conforme o documento de Medellín: “A liturgia é a ação de Cristo Cabeça e de seu corpo que é a Igreja. Contém, portanto, a iniciativa salvadora que vem do Pai pelo Verbo e no Espírito Santo, e a resposta da humanidade naqueles que se enxertam, pela fé e pela caridade, no Cristo, recapitulador de todas as coisas. A liturgia, momento em quer a Igreja é mais perfeitamente ela mesma, realiza indissoluvelmente unidas, a comunhão com Deus entre os homens, e de tal maneira que a primeira é a razão da segunda. Se antes de tudo procura o louvor da Glória e da graça, também está consciente de que todos os homens precisam da Glória de Deus para serem verdadeiramente homens” (Medellín – lit. 9,2)
1.2 O QUE SE CELEBRA
Celebrar significa tornar célebre um determinado momento ou acontecimento da vida. O ato de celebrar faz parte da vida humana, é uma ruptura da rotina cotidiana. Celebrar é comemorar, isto é, atualizar na memória algo em comunhão com alguém. “Em todos os tempos e lugares, homens e mulheres de todos os meios e níveis sociais, de todas as culturas e religiões, costumam realçar, ao longo da existência, aspectos fundamentais da vida individual, familiar, social e religiosa” (Doc. CNBB – 43 Nº. 36) e este realce se dá no ato celebrativo.
A celebração “nos leva a descortinar a grandeza de nosso ser e de nosso destino de imagens de Deus”. Ela “nos abre espaço para vivermos em comunhão que é o anseio profundo de nosso ser social” (Doc. CNBB – 43 Nº. 38
Como toda Celebração, a liturgia envolve um grande acontecimento: trata-se de celebrar o MISTERIO PASCAL – a paixão, a morte, a ressurreição e a glorificação de Cristo. E é este o acontecimento central de nossa fé. (Doc. CNBB – 43 Nº. 39).
Hoje, somos convidados “a celebrar os acontecimentos da vida inseridos no Mistério Pascal de Cristo”.
1.3 QUEM CELEBRA
O Catecismo da Igreja Católica afirma que “é toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra” (CIC 1140).
Jesus Cristo é o único sacerdote, o celebrante principal. Nós somos convocados pelo Espírito Santo para celebrar com Jesus e com os demais membros da comunidade.
Celebrar é participar como sujeito e não como mero assistente. Na celebração litúrgica a pessoa torna-se participante de toda a vida de Jesus de Cristo (Mistério Pascal) e da vida de seus irmãos e irmãs inserida neste mistério de salvação. Portanto, quem celebra é toda a comunidade reunida em assembléia.
O êxito de uma celebração está diretamente ligado à diversidade de funções atribuídas aos membros de sua assembléia. De fato, a assembléia litúrgica “é uma comunidade reunida, mas nunca de modo massificado. Não é massa nem público. Articula-se em torno de diversas atividades específicas distribuídas entre seus diversos membros”. Sabemos também que “essas atividades, funções e papéis são, pois, verdadeiros serviços ou ministérios, porque ajudam a assembléia” a celebrar a vida de forma plena.
Dentre os principais serviços lembramos a “acolhida, leitura, canto, oração, ofertório, assistência à mesa-altar, presidência”.
1.4 MISTERIO PASCAL
Costumamos dizer que liturgia é a celebração dos mistérios de Deus. Que mistérios são esses? Quando falamos em mistérios de Deus queremos indicar os projetos de Deus que se realizam na pessoa de Jesus Cristo: a redenção e a salvação de todos os homens, a implantação do Reino de Deus no mundo, a participação de todos da vida e da felicidade de Deus...
Na liturgia celebramos o Mistério central da vida de Cristo que é seu Mistério Pascal que consiste na sua paixão, morte e ressurreição. E pascal deriva-se de Páscoa, que significa passagem. Portanto, mistério pascal é a passagem de Cristo pelo sofrimento e morte até a sua ressurreição-glorificação.
Quando se fala em mistério pascal não se deve pensar somente em Jesus. A páscoa de Jesus está unida à páscoa do povo de Deus. A páscoa é páscoa do Cristo total: cabeça e membros. Portanto, a liturgia celebra a páscoa do Senhor e a páscoa do se povo. Celebra os sofrimentos, a morte, a ressurreição-glorificação de Jesus; mas celebra também, por um lado, as lutas as dores, as angústias e a morte do nosso povo, e por outro lado, celebra suas conquistas, alegrias e esperança em vista de uma sociedade fundada na justiça e na fraternidade.
Deus organizou, um plano que passa pelos profetas e por Cristo chega até nós. E ele quis o prolongamento deste plano na história dos homens. A liturgia se inscreve na continuidade da Obra de Deus desde a criação até a Parusia - o fim dos tempos, quando na Nova Jerusalém celebramos de um modo perfeito e definitivo a liturgia celeste (SC, 8).
Para unir, reunir e congregar todos os homens em Deus, Cristo permanece presente, atual, vivo, hoje e sempre na celebração litúrgica. Ele é o litúrgico por excelência. É altar e oferenda, vítima e holocausto. Nele encontra-se a plenitude do culto divino. Toda a vida de Cristo é litúrgica e sacerdotal. Está a serviço:
- Da glorificação de Deus (“Eu te louvo, ó Pai” – Lc 10,21);
- As santificação dos homens (“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” – Jô 8,32);
- Da reconciliação de todos com Deus (“Eu não quero a morte do pecador, mas que ele
- se converta e viva” – Mt 9,13).
Daí é que podemos dizer que a liturgia é a Igreja viva como: sacramento, sinal e instrumento de união com Deus e de Salvação dos homens.
A Liturgia é vida para a Igreja: A vida da Igreja resume-se no serviço de Cristo que salva. Por isso, a Igreja é sinal, instrumento e sacramento visível de unidade e salvação. Este serviço é de modo especial a liturgia – serviço em favor do povo. Nela a Igreja atualiza o Mistério Pascal do Cristo para a salvação do mundo e louva a Deus em nome de toda a humanidade.a liturgia é o momento culminante da vida da Igreja, da atuação do Espírito Santo e da perseverança do Cristo Glorioso. É a vida da Igreja onde o Cristo se faz presente, realizando a salvação do seu povo. Liturgia é, portanto, a salvação celebrada atualizada, acontecida e vivida.
1.5 HISTORIA DA LITURGIA
“Para conservar a sã tradição e abrir ao mesmo tempo o caminho a um progresso legítimo, faça-se uma investigação teológica histórica e pastoral acerca de cada uma das partes da liturgia que devem ser revistas”. (SC,23).
O que Cristo deixou determinado com relação a liturgia?
Jesus Cristo não deixou nada escrito. Não traçou nenhum ritual de cerimônias religiosas. A grande liturgia de sua vida foi, de fato, a sua entrega, na cruz, oferecendo-se como sacrifício, ao Pai e aos homens. Os apóstolos, porém, assistidos pelo Espírito Santo, organizaram as primeiras comunidades e criaram maneiras novas para o culto das mesmas.
Tudo foi sendo conforme a realidade e necessidade do povo. A Igreja vai se encarnando, se aculturando, se adaptando conforme as necessidades de cada lugar e de cada época. E isto é bem claro com relação a liturgia. No principio, os apóstolos, como os primeiros cristãos, continuam freqüentando o templo para oração. A Igreja, no seu começo, não possuía um culto próprio diferente do culto do judaísmo. Mas, ao mesmo tempo que freqüentavam o templo, os cristãos iam criando formas próprias de culto. O mesmo vai acontecendo nas casas.
Ai, os cristãos se reúnem para a sua liturgia, celebrando a nova aliança com morte de Cristo pela renovação da Ceia Pascal do Senhor.
As primeiras Liturgias
“Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações”. (At 2,42).
Nossa liturgia tem sua origem (fato): A nossa liturgia tem a sua origem na última ceia de Jesus Cristo com o grupo dos 12 apóstolos. Dela falam os evangelistas Mateus (26,26-28). Durante a refeição • Jesus tomou o pão e, depois de ter pronunciado a bênção, ele o partiu; depois, dando-o aos discípulos, disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo • A seguir, tomou uma taça e, depois de ter dado graças, deu-a a eles, dizendo: Bebei dela todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, derramado em prol da multidão, para o perdão dos pecados • Marcos (14,22-25) e Lucas (22,19-20) e o apóstolo Paulo (1Cor 11,23-25). Eles ainda apresentam o pedido de Jesus “Fazei isto em memória de mim”.
Liturgia será sempre memória: De Jesus Cristo. Ou melhor, da sua Paixão e morte, ressurreição e ascensão. Para nós a celebração eucarística é um “memorial” – nela recordamos a ceia de Jesus na véspera de sua morte, na qual se entregou ao Pai por nós. Porque os cristãos das comunidades primitivas tinham o costume de reunir-se no domingo? Porque foi no domingo – “o primeiro dia da semana” – que o Senhor Jesus Cristo Ressuscitou.
“Devido à tradição apostólica que tem sua origem no dia mesmo da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra cada oitavo dia o Mistério Pascal. Esse dia Chamava-se justamente dia do Senhor ou domingo. Neste dia, pois, os cristãos devem reunir-se para, ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se da Paixão, Ressurreição e Glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que os regenerou para a viva esperança, pela Ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos.” (1Pd 1,3).Por isso, o domingo é um dia de festa primordial que deve ser lembrado e inculcado à piedade dos fieis, de modo que seja também uma dia de alegria e de descanso do trabalho”. ( cf. SC, 106).
O modo como as primeiras comunidades celebravam a eucaristia? (Atos 2,42-47)
Eles eram assíduos ao ensinamento dos apóstolos e à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações • O temor se apoderava de todo mundo: muitos prodígios e sinais se realizavam pelos apóstolos. Todos os que abraçaram a fé • estavam unidos • e tudo partilhavam.Vendiam as suas propriedades e os seus bens para repartir o dinheiro apurado entre todos, segundo as necessidades de cada um. De comum acordo, iam diariamente ao Templo • com assiduidade: partiam o pão em casa, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram favoravelmente aceitos por todo o povo. • E o Senhor ajuntava cada dia à comunidade os que encontravam a salvação.
O que aprendemos da Liturgia dos primeiros Cristãos: Os primeiros cristãos não apenas celebravam a liturgia, mas vivia a liturgia. Desse comportamento podemos retirar algumas lições para nós, hoje:
- Constata-se, em primeiro lugar, uma estreita ligação entre a celebração e a vida deles. A celebração da entrega do Corpo e Sangue do Senhor Jesus era a expressão da doação de suas vidas pelos outros. Todos se preocupavam pelos problemas de todos “Um por todos e todos por um”.
- Descobre-se também a presença de uma comunidade ativa por ocasião das celebrações, de onde se tirava força para viver a mensagem libertadora de Jesus Cristo.
- Denuncia-se ainda a barreira que impede a celebração autêntica: o egoísmo de alguns ricos que se uniam em grupos fechados e marginalizavam os pobres. Aparece a exigência da mudança de vida, para que a Eucaristia seja, de fato, sinal e instrumento de transformação social, para criar verdadeira comunhão e não apenas reunião. (cf 1Cor 11,17-34).
(1Cor 11, 17-26). Isto posto, eu não tenho de que vos felicitar: as vossas reuniões, muito ao invés de vos fazer progredir, vos prejudicam. Primeiramente, quando vos reunis em assembléia, há entre vós divisões, dizem-me, e creio que em parte seja verdade: é mesmo necessário que haja cisões entre vós, a fim de que se veja quem dentre vós resiste a essa provação • Mas quando vos reunis em comum, não é a ceia do Senhor que tomais. Pois na hora de comer, cada um se apressa a tomar a própria refeição • de maneira que um tem fome, enquanto o outro está embriagado • Então, não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus, e quereis afrontar os que não têm nada? Que vos dizer? É preciso louvar-vos? Não, neste ponto eu não vos louvo.
De fato, eis o que eu recebi do Senhor, e o que vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou pão, e após ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, em prol de vós•,fazei isto em memória de mim• . Ele fez o mesmo quanto ao cálice, após a refeição, dizendo: Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que dele beberdes, em memória de mim. Pois todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.
- Sente-se a ligação entre a missa e Igreja: pela Eucaristia a Igreja se constrói anunciando, denunciando e vivendo Jesus.